quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Não te quero...

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

Pablo Neruda

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Há quanto tempo...

Hoje falámos como há muito tempo não o fazíamos. Voltámos a falar de ti, de mim, de nós, de nós com os outros. Há quanto tempo não tínhamos uma conversa? Há quanto tempo não nos ouvíamos? Não nos partilhávamos? Não nos queixávamos da vida ingrata que temos? Mesmo que não seja tão ingrata assim… Há quanto tempo não perguntávamos uma à outra “está tudo bem?”, mas desta vez concentradas na resposta que vamos ter? Saber se está tudo bem ou se alguma coisa não está? E mais do que fingir escutar, ouvir o que essa pessoa tem a dizer, a gritar, a chorar, a sorrir… Há quanto tempo não nos lembrávamos que houve dias em que isto não era uma recordação, mas uma realidade? Há quanto tempo não nos comportávamos como amigas que um dia já fomos? Há quanto tempo? Há quanto tempo…
Por muitos espinhos que uma rosa tenha, ela não perderá jamais o seu aroma nem a doce sensação do tacto… A vida passa, as pessoas desiludem-se, mas haverão sempre coisas que não se perdem, mesmo que se desvaneçam. Cabe a cada um de nós saber fazê-las valer, porque será sempre assim: as coisas valem o que valem. E por tudo o que já foi, tens-me sempre aqui, talvez não ao teu lado, mas atrás de ti. Basta olhares pelo ombro para teres a certeza de que eu vou lá estar, sempre. Porque u
m dia a minha estima por ti foi incalculável, e se me perguntares o que sinto em relação a isso, com um leve sorriso enternecido, responder-te-ei,: “saudade”.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

10 things I hate about you...

"I hate the way u talk to me

And the way u cut your hair

I hate the way u drive my car

I hate it when u stare


I hate your big dumb combat boots

And the way u read my mind

I hate it so much it makes me sick

It even makes me rhyme


I hate the way u are always right

I hate it when u lie

I hate it when u make me laugh

Even worse when u make me cry


I hate it that you're not around

And the fact u didn't call

And mostly I hate the way I don't hate u

Not even close, not even a little bit

not even at all."

Aquele peso em mim...

...meu coração!
Hoje acordei e o peito doía-me. Apertava-me. Sentia-se. Batia num desconcerto que não posso nem sei se consigo explicar. Por toda a minha existência, e desde que me conheço, soube reconhecer que os princípios do Iluminismo de Kant não ganharam forma visível em mim. Não que não saiba fazer uso pleno da razão, muito pelo contrário, considero-me como uma pessoa bastante racional e ponderada em qualquer situação da minha vida. Quero com isto dizer apenas que existem diferentes posturas na vida, sendo que a melhor será sempre a que consegue equilibrar o coração com a razão. E é aqui que me sinto mais pobre... Qualquer pessoa inundada se sentimentos tem dificuldades acrescidas em fazer prevalecer a razão, mesmo que consciente de que isso seria sempre a melhor das opções a tomar. E eu não sou melhor que ninguém. Aliás, desconfio nestes campos seja mesmo pior... Isto não tem que ser depreciativo. Mas é um facto. Cada um terá a sua sensibilidade, e na mesma medida, a mesma capacidade de sentir, sofrer as coisas a ponto de doer, mas doer a sério.
Eu sou, inevitavelmente, uma dessas pessoas. Sinto-me hoje muito mais madura por tudo isso. E digo madura porque não amargurada. As desilusões terão sempre o seu lado construtivo, servem no mínimo, para nos dar os maus exemplos e para crescermos com eles. E recordo-me agora de uma citação que me define em várias situações:

"Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better."
(Samuel Becker)
Transmite a força, todo o alento que nos leva a levantar do chão depois da mais aparatosa queda. E afinal, não é aí que está a nossa maior glória? Eu acredito que sim... Para quem partilha desse tacto maior que é a sensibilidade, isso torna-nos numa pessoa forte e determinada, e ao mesmo tempo, eternamente delicada e sublime. Chego mesmo a acreditar que não seria uma pessoa tão bonita se assim não fosse... E isso tirar-me-ia toda uma essência a que vos fui, amigos, habituando, e que faz de mim aquilo que hoje me reconheço. E que confesso, gostaria de reconhecer em tantos mais... Por toda a nossa vida, existirão doces que amargam, flores que brotam do mais àspero caule. O tempo encarregar-se-á por nos revelar a natureza de todos e de cada um... Não será nunca fácil encontrar alguém que nos perceba pela leve expressão do olhar, que mais do que escutar, ouça aquilo que o peito grita, e, acima de tudo, que o entenda. Porque sofre, porque aperta, porque nos pesa... Alguém assim, aquieta o espirito e a alma. Aquece o gélido arrepio na espinha e faz com que sentimentos não sejam assim tão disparatados como a maioria prefere exaltar... Conforta. Anima. Fortalece.
Em mim, sentimentos transbordam e o coração... pesa-me.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Metade de mim

"
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é plateia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também. "

(Oswaldo Montenegro)